Imagem de videoconferência com Tereza Campello, Carlos Monteiro, Simone Diniz, Marina Yamaoka e Tania Bacelar

Seminário inicia debate multidisciplinar com homenagem de filha de Josué

Resgatando a obra de Josué de Castro e buscando compreender o Brasil ao olhar para o que aconteceu no país desde 1946 – data de lançamento da essencial obra do médico pernambucano -, a Cátedra Josué de Castro deu início nesta segunda (29) ao seminário que celebra os 75 anos de “Geografia da Fome”.

A mesa de abertura de “Geografia da Fome: 75 anos depois – Novos e velhos dilemas” contou com a participação de Tania Bacelar (UFPE), Carlos Augusto Monteiro (Nupens/USP), Simone Grilo Diniz (FSP/USP) e, na moderação, Tereza Campello (Cátedra Josué de Castro). Uma emocionante mensagem de Anna Maria Castro (UFRJ), filha de Josué de Castro, foi lida.

“Temos dois grandes objetivos com esse evento. Primeiro, claro, homenagear Josué de Castro, ao comemorar os 75 anos de sua mais importante obra. E, ao mesmo tempo, dar o primeiro passo, iniciar um processo de discussão sobre o Brasil hoje, buscando se inspirar na obra de Josué de Castro para entender os grandes dilemas da fome no país”, afirmou Tereza Campello.

A professora da Cátedra lembrou que não somos mais o país pobre e com fome da época de Josué, mas um país rico em que a fome se mantém após, no início do século, ter percorrido uma importante trajetória que virou referência mundial. Tendo saído e voltado rapidamente para o Mapa da Fome, cabe entender agora os paradoxos que se apresentam no Brasil a partir de determinantes da fome e suas consequências sobre saúde, clima e meio-ambiente.

Carlos Augusto Monteiro destacou que atividades como essa era o que se sonhava no Nupens quando a Cátedra surgiu. “Que essa cátedra puxe o entusiasmo desse pensamento inovador dentro da Faculdade de Saúde Pública da USP e da universidade brasileira”, disse Simone Grilo Diniz.

“As questões que guiam as mesas desse evento sobre o que propor nesse novo momento estão claramente colocadas”, afirmou Tania Bacelar. “A atualidade de uma das contribuições de Josué de Castro fica explícita na sua abordagem multidisciplinar, que envolve conhecimento de múltiplas ciências, desde a biologia, a medicina, a antropologia social, a ecologia, a ciência econômica, a ciência política, entre outras. Mais atual impossível: em tempos de crise ecológica, de crise social e de profundas mudanças mundo afora”, completou.

A mesa de abertura também foi marcada pela leitura de carta escrita por Anna Maria de Castro especialmente para o evento. Ela optou por um texto que retratasse o “homem Josué” nas suas relações com Anna Maria, sua filha. O documento foi lido por Marina Yamaoka, integrante da Cátedra.

“Havia um vínculo invisível entre mim e meu pai que nos colocou lado a lado durante toda a vida. Entretanto, o desejo de fazer um depoimento na condição de sua filha aflorou quando fui convidada para prefaciar o livro de Jean Ziegler A fome no mundo explicada a meu filho em que o autor fala como um pai sobre as agruras da fome. Na oportunidade escrevi: ‘Quem afora um pai poderia conversar com toda franqueza e honestidade com o filho sobre tabus como sexo e fome? Quem senão um pai poderia sinceramente e sem temor cuidar de temas de impacto e que as sociedades têm se recusado a enfrentar com denodo e a buscar soluções satisfatórias’”, escreveu Anna Maria.

Leia a carta na íntegra.